O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, afirmou que ainda há diligências em curso no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado, mas negou que tenha havido “açodamento” para apresentar a conclusão da investigação e indiciar 37 pessoas, entre elas Jair Bolsonaro (PL). Em entrevista nesta quarta-feira (4), Rodrigues disse ainda que todos os elementos de prova trazidos no relatório final demonstram que o ex-presidente sabia da “trama golpista”.
“É uma investigação muito responsável. Não são, como eu brinquei aqui, vozes da minha cabeça”, disse Rodrigues durante um café com jornalistas para apresentar o balanço dos trabalhos da PF em 2024. O relatório foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se apresenta denúncia à Justiça contra os indiciados, se recomenda o arquivamento do caso ou se pede mais diligências.
O diretor-geral disse desconhecer o fechamento novos acordos de delação premiada no âmbito da investigação, mas apontou que a equipe que comanda o inquérito tem total autonomia para dar continuidade ao trabalho.
Ao ser questionado sobre “lacunas” da investigação, ele reconheceu haver episódios que ainda não foram totalmente esclarecidos, a exemplo da identidade das seis pessoas que supostamente atuaram no dia 15 de dezembro de 2022, para capturar e executar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ele, no entanto, defendeu que investigação conseguiu comprovar que havia um plano para executar autoridades, entre elas Moraes e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Rodrigues também lembrou que as 37 pessoas foram indiciadas por tentativa de golpe de Estado e não por assassinato. Para ele, não há dúvidas de que Bolsonaro atuou para impedir a posse de Lula após perder as eleições de 2022.
Rodrigues destacou que o relatório final sobre o golpe foi robusto, com mais de 800 páginas (clique aqui para acessar a íntegra). Em relação à Operação Contragolpe, que prendeu cinco pessoas em 19 de novembro, ele indicou que foi preciso agir porque quatro militares estavam no Rio de Janeiro no mesmo período em que Lula se encontrava na cidade, para participar do encontro do G20.
Rodrigues evitou responder se havia a suspeita de um atentado contra Lula, mas afirmou que, nesses casos, é preciso atuar de maneira preventiva e não “pagar para ver”.
Ele também contou ter recebido a informação de que pelo menos um deles estava lá para fazer relatórios sobre o encontro. Na ocasião, o Ministério da Defesa negou que os militares estivessem lá para atuar no G20.
Questionado sobre por que não houve um pedido de prisão preventiva do general da reserva Walter Braga Netto, apontado como peça-central no inquérito do golpe, o diretor-geral afirmou que a PF adota parâmetros técnicos ao decidir prender alguém e não age por “vontade individual”.
“A gente não age com emoção, por deleite, por vontade individual, a gente age com a Constituição e com a lei”, disse.
Segundo ele, a avaliação da equipe de investigação foi de que, ao deflagrar a Operação Contragolpe, em novembro, não estavam presentes os requisitos para prisão do general, ex-ministro de Bolsonaro e vice na chapa do então presidente em 2022. De acordo com o relatório final do inquérito, o plano para matar autoridades foi discutido na casa de Braga Netto.
“Eu respeito à equipe de investigação, não há qualquer interferência nossa. O presidente do inquérito entendeu que não estavam presentes os requisitos para a prisão daquele cidadão”, disse.
Andrei Rodrigues afirmou que não houve qualquer interferência de fora da corporação para blindar a cúpula militar no inquérito do golpe e que não houve tratamento diferenciado para os comandantes das Forças Armadas. Dos 37 indiciados, 25 são militares.
“A PF não investiga nenhuma patente, nenhum cargo. A gente investiga fatos. Se o sujeito é médico, coronel, jornalista, pedreiro ou empresário, isso não muda a investigação”, disse.
O diretor-geral, no entanto, desconversou quando questionado se houve “prevaricação” do ex-comandante de Exército, Freire Gomes, e da Força Aérea Brasileira, Carlos de Almeida Baptista Junior, que teriam se colocado contra o plano de Bolsonaro para impedir a posse de Lula, mas não o denunciaram na época.
De acordo com a investigação, eles conversaram com Bolsonaro sobre a possibilidade de editar um decreto depois do resultado das eleições de 2022, mas não endossaram a ideia. Já o almirante Almir Garnier Santos, que comandava a Marinha, foi indiciado, pois teria colocado as tropas a disposição do então presidente.
Segundo Rodrigues, a decisão de não indiciar os outros dois comandantes foi da equipe que conduz inquérito, diante de todo contexto levantado pela investigação.